Filha de porteiro e faxineira vê saudade dos pais como principal ‘desafio’ enquanto vive ‘sonho’ de cursar Medicina na USP


Marya Teresa Ribeiro passou três anos estudando aproximadamente 17 horas por dia para ser aprovada no vestibular.

A filha de um porteiro e uma faxineira, Marya Teresa Ribeiro, de 20 anos, realiza o sonho de cursar Medicina na Universidade de São Paulo (USP), mas tem enfrentado um desafio: a saudade dos pais. Natural de Santos, no litoral de São Paulo, ela foi aprovada para o curso no campus de Bauru (SP), que fica a aproximadamente 400 km da casa dos familiares na Baixada Santista. Os parentes têm problemas de saúde e, por conta disso, não conseguem visitá-la com frequência.

Ao g1, Marya contou ter percorrido um longo caminho para chegar até a USP e que, apesar da saudade dos pais, está feliz com a oportunidade. Ela relatou ter passado três anos estudando quase 17 horas por dia para alcançar o objetivo, o que aconteceu no começo de 2023. “Estou vivendo uma realidade muito melhor do que qualquer sonho que sonhei.”

Segundo Marya , os pais Cleber e Rozineide Teixeira não conseguem fazer uma viagem tão longa para visitá-la, pois, além da distância, enfrentam problemas de saúde. A mãe foi atropelada por uma carreta quando a estudante tinha cinco anos e sente dores pelo corpo, assim como o pai, que tem uma prótese na coluna.

Eles não têm saúde para fazer essa viagem de 400 quilômetros de ônibus”, desabafou Marya.

Aulas, veteranos ‘adotivos’ e saudade de casa

As aulas começaram em março deste ano e, neste primeiro semestre do curso, são divididas em teóricas e práticas – que envolvem simulações de ocorrências diárias em hospitais. Nova integrante de uma das moradias estudantis da USP, Marya divide a casa com outras oito mulheres. Apesar da distância para Santos (SP), ela agora tem a oportunidade de morar perto do local onde estuda.

“Pela primeira vez na minha vida estou morando perto de onde eu estudo”, comentou a jovem. Ela acrescentou que, antes de se mudar para Bauru (SP), morava na Zona Noroeste de Santos (SP) e estudava em uma escola pública, e em um curso preparatório com bolsa integral, em áreas próximas à praia, distantes da casa dela.

Mesmo com a rápida adaptação, a estudante ainda sente saudades de casa, principalmente dos familiares, que foram decisivos na trajetória de estudos dela. Durante a Semana de Recepção da USP, momento em que pais e filhos têm um momento de comemoração na universidade, Marya não pôde contar com a presença de quem sempre foi a base dela.

“Foi triste porque todos [os outros recém-aprovados] tinham o apoio das suas famílias, e a minha estava em Santos. [Mas] os meus ‘pais da faculdade’ [veteranos que a ‘adotaram’] ficaram comigo para não me sentir tão sozinha”, lembrou.

A estudante pretende voltar para Santos (SP) durante as férias de julho e dezembro. A passagem de ida e volta de ônibus entre Bauru (SP) e a cidade natal dela pode chegar a R$ 300. O valor, segundo Marya, é o mesmo que ela recebe de auxílio para se manter o mês todo. Com o dinheiro, a jovem costuma pagar o café da manhã, lanche da tarde e as refeições de final de semana dentro do restaurante da USP, que tem pratos que custam R $2.

Por conta das condições financeiras da família, os pais dela, porteiro e faxineira aposentados, podem contribuir apenas com pouco dinheiro para ajudar a filha a se manter em outra cidade.

“Nossos recursos são limitados, mas crendo em Deus e sabemos que tudo vai dar certo’, disse Rozineide Teixeira, mãe da estudante.

 

Mesmo assim, a aposentada afirmou ‘contar os dias’ para que a filha retorne para casa, uma vez que sente um “vazio” em casa desde a mudança de Marya. “Ela está fazendo muita falta, mesmo falando todos os dias.”

A mulher contou, ainda, que mesmo durante os anos de estudo de cursinho pré-vestibular, sempre teve muito orgulho do esforço da filha. “Ficamos felizes por Deus ter cumprido a promessa que havia feito na vida da Marya Teresa. Esses três últimos anos foram de muitos esforços e dedicação, aí chegou o resultado, foi de muita satisfação e alegria, mas sempre com os pés no chão”, finalizou.



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