Dilma quer barrar a crise com empregos


Presidente discursa na Universidade de Harvard e cobra dos países mais ricos a retomada do desenvolvimento para barrar a crise econômica mundial. A ausência de Cuba no encontro da Cúpula das Américas, no fim de semana, também foi alvo de críticas.

Boston e Cambridge — A presidente Dilma Rousseff, em seu terceiro dia de visita aos Estados Unidos, cobrou a retomada dos investimentos produtivos como antídoto para barrar a crise econômica mundial e ampliar a oferta de empregos no mundo. Na avaliação da líder brasileira, não há outro caminho para a economia global recuperar o fôlego e superar os estragos provocados pelo tsunami monetário que tem incentivado a valorização das moedas de países emergentes, especialmente o real. “Nós sabemos que somos afetados pela crise financeira do mundo. Mas temos condições de enfrentá-la. Vivemos um momento de muita preocupação”, afirmou ela em discurso para 700 acadêmicos e estudantes do John F. Kennedy Forum, da Universidade de Harvard, uma das mais prestigiadas no planeta.

A governante brasileira aproveitou a plateia e repetiu a crítica ao que ela chama de tsunami monetário provocado pelas economias desenvolvidas — uma injeção de mais de US$ 9 trilhões na economia global. “As ações dos bancos centrais melhoraram muito a situação (das economias dos países ricos, que começam a sair da recessão). Mas nós sabemos que ainda persistem várias ameaças”, afirmou Dilma, reconhecendo que as medidas de estímulos à atividade evitaram uma crise aguda de liquidez. Alertou, porém, que as políticas expansionistas (emissões de moedas) sem a contrapartida de investimentos afetam, sobretudo, os países emergentes.

Ex-presa política e a primeira chefe do Executivo brasileiro — destacada como social-democrata pela presidente de Harvard, Drew Faust, primeira mulher a comandar a instituição fundada há 375 anos —, Dilma também procurou enfatizar que a democracia ajudou o Brasil a conquistar a posição atual no mundo. “O país hoje tem um grande mérito, é uma grande democracia. É muito melhor as muitas vozes contrárias do que o silêncio das ditaduras”, frisou. Durante as perguntas feitas por alunos da instituição, ela comentou que a geração dela sonhava em ser bailarina ou bombeira e nunca presidente da República. “Hoje, vocês podem ser presidentes até de Harvard”, disse, em tom mais descontraído.

Nesse contexto, a presidente ressaltou a importância dos Estados Unidos num mundo “multipolar”. Lembrou que o país é uma economia flexível, sempre capaz de liderar as crises. “Acredito que temos uma especial relação (com os EUA) porque somos democracias jovens, multilaterais e com várias características culturais e comportamentais semelhantes. Tenho certeza de que essa parceria com os EUA para o século 21 nos interessa.”

Para Dilma, num quadro de cooperação bilateral, a educação é fundamental, assim como a estratégia de investir em inovação. “Temos que dar importância a patentes. E o Brasil precisa ampliar a oportunidade de acesso aos mercados e melhorar a qualidade da educação desde a creche”, afirmou. Em relação às bolsas de estudo prometidas pelo governo, os imigrantes brasileiros nos EUA ficaram frustrados quando ela falou que eles não serão contemplados com os programas.

Encontro esvaziado
A agenda internacional de Dilma esta semana está agitada. Nos dias 14 e 15, ela participa, em Cartagena, na Colômbia, da Cúpula das Américas onde a ausência de Cuba será um dos temas de discussão. Ela cobrou dos Estados Unidos uma mudança no posicionamento relativo ao país comandado por Raúl Castro, especialmente no veto à participação do país caribenho na cúpula. Dilma chegou a afirmar que o encontro do próximo fim de semana será o último sem a presença da ilha. “Essa é uma decisão unânime”, avisou.

O tema foi recorrente durante o jantar que a presidente teve com pensadores norte-americanos na casa do embaixador do Brasil em Washington, na noite de segunda-feira. “Ela conversou sobre vários assuntos e voltou a falar de Cuba. E a conversa foi de altíssimo nível. Acho que foi o ápice da visita de Dilma”, contou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Entre os debatedores estavam Thomas Friedman, Condoleezza Rice e Madeleine Albright.

Restrições a empresas
As preocupações com as empresas brasileiras nos Estados Unidos também demandaram atenção imediata de Dilma, expressas pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Segundo ele, a presidente está receosa com a aprovação, no Parlamento da Flórida, de um projeto que proíbe empresas com investimentos em Cuba de fazerem negócios no estado. “A preocupação é grande porque várias firmas brasileiras têm contratos importantes nos Estados Unidos e em Cuba”, afirmou. A lei ainda não foi sancionada. Dilma veio a Boston acompanhada de sete ministros. O avião presidencial voltou para o Brasil logo após a palestra de Dilma na Universidade Harvard.

Temer sanciona duas leis
O vice-presidente Michel Temer, em exercício por conta da viagem da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos, sancionou ontem duas leis que foram publicadas no Diário Oficial da União de hoje. Uma delas foi a MP 547, aprovada pelo Senado no mês passado, que institui o Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil. Uma das medidas previstas no plano trata da transferência de bens apreendidos no crime para órgãos da defesa civil em caso de desastres naturais. A outra foi a lei que nomeia a Ponte Hélio Serejo, no Rio Paraná, na divida entre os estados de São Paulo e de Mato Grosso do Sul.

Autor(es): Rosana Hessel
Correio Braziliense – 11/04/2012




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